terça-feira, 28 de outubro de 2014

UM ESPÍRITO QUE SE JULGA MÉDIUM


             A Sra. Gaspard, amiga da Sra. Delanne, era uma fervorosa espírita; seu pesar era não ser médium; teria desejado sobretudo ser médium vidente. Desde longa data sofria muito de um aneurisma. Em 2 de julho último, durante a noite, a ruptura desse aneurisma provocou-lhe a morte súbita. A Sra. Delanne ainda não tinha sido informada do evento quando, de dia, ouviu pancadas em diversas partes do quarto; a princípio não prestou grande atenção, mas a persistência dos golpes fez pensasse que algum Espírito queria comunicar-se. Como é excelente médium, tomou do lápis e escreveu o que se segue:
Oh! boa Sra. Delanne, como me fizestes esperar! Corri para vos contar minha nova faculdade: sou médium vidente. Vi meu caro Emílio, minhas crianças, todos, minha mãe, a mãe do Sr. Gaspard. Oh! como ele vai sentir-se feliz quando souber! Obrigado meu Deus, por tão grande favor!
P.–Sois vós mesma, Sra. Gaspard, que me falais neste momento?
Resp. –Como! não me vedes? Há muito tempo estou perto de vós. Estava impaciente porque não me respondíeis. Vamos! vireis, não? Agora é a vossa vez. E, depois, isto vos fará bem; iremos passear, agora que me sinto bem. Oh! como se é feliz, ao rever aqueles a quem se ama! Foi o que me curou. Como o bom Deus é bom e como cumpre suas promessas quando se é fiel aos seus mandamentos! – Hem, meu Emílio! e dizer que meu pobre pai ainda vai falar que estou louca! Isso não tem importância; mesmo assim lho direi. – Vamos partir? É preciso levar vossa mãe, pois isto lhe fará bem. Pobre mulher! ela tem um ar tão bom!
P.– Vamos partir, Sra. Gaspard; eu vos sigo. Vamos mesmo à vossa casa em Châtillon? Dizei-me o que vedes ou, melhor, o que lá se passa no momento.
Resp. –Coisas singulares! Dito isto, o Espírito se foi e a Sra. Delanne nada mais pôde obter.
Para a compreensão desta última parte da comunicação, diremos que, desde algum tempo, as duas amigas haviam planejado um passeio na casa de campo da Sra. Gaspard, em Châtillon. Surpreendida por uma morte súbita, a Sra. Gaspard não se dá conta de sua posição e ainda se julga viva; como vê os Espíritos que lhe são caros, imagina haver-se tornado vidente; é uma particularidade notável da transição da vida corpórea à vida espiritual. Além disso, achando-se livre do sofrimento, a Sra. Gaspard crê-se curada e vem renovar seu convite à Sra. Delanne. Contudo, nela as ideias são confusas, pois vem avisá-la por meio de golpes em torno dela, sem compreender que não seria advertida desta maneira se estivesse viva.
A Sra. Delanne logo compreende a singularidade da posição, mas, não lhe querendo tirar as ilusões, a convida a ver o que se passa em Châtillon. O Espírito para ali se transporta e talvez tenha sido chamado à realidade por alguma circunstância imprevista, já que exclama: “Coisas singulares!”, e interrompe a comunicação.
Aliás, a ilusão durou pouco. A partir do dia seguinte a Sra. Gaspard já estava completamente desprendida e ditou excelente comunicação, dirigida ao marido e aos amigos, congratulando-se por haver conhecido o Espiritismo, que lhe proporcionara uma morte isenta das angústias da separação.

Allan Kardec. Revista Espírita, setembro de 1864.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Mediunidade

"A mediunidade é inerente a uma disposição orgânica, de que qualquer homem pode ser dotado, como a de ver, de ouvir, de falar.[...] A mediunidade é conferida sem distinção a fim de que os Espíritos possam trazer a luz a todas as camadas, a todas as classes da sociedade, ao pobre como ao rico; aos retos, para os fortificar no bem, aos viciosos para os corrigir. [...] A mediunidade não implica necessariamente relações habituais com os Espíritos superiores. É apenas uma aptidão para servir de instrumento mais ou menos dúctil aos Espíritos, em geral. O Bom médium, pois, não é aquele que se comunica facilmente, mas aquele que é simpático aos bons Espíritos e somente deles tem assistência."

(Allan Kardec: O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 24, item 12.)

"Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns. Todavia, usualmente, assim se qualificam aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então depende de uma organização mais ou menos sensitiva."

(Allan Kardec: O Livro dos Médiuns. Segunda Parte. Cap. 24, item 159.)
      Digamos, antes de tudo, que a mediunidade é inerente a uma disposição orgânica, de que qualquer homem pode ser dotado, como da de ver, de ouvir, de falar. Ora, nenhuma há de que o homem, por efeito do seu livre-arbítrio, não possa abusar, e se Deus não houvesse concedido, por exemplo, a palavra senão aos incapazes de proferirem coisas más, maior seria o número de mudos do que os dos que falam. Deus outorgou faculdades ao homem e lhe dá a liberdade de usá-las, mas não deixa de punir o que delas abusa.
Se só aos mais dignos fosse concedida a faculdade de comunicar com os Espíritos, quem ousaria pretendê-la? Onde, ao demais, o limite entre a dignidade e a indignidade? A mediunidade é conferida sem distinção, a fim de que os Espíritos possam trazer a luz a todas as camadas, a todas as classes da sociedade, ao pobre como aos ricos; aos retos, para os fortificar no bem, aos viciosos para os corrigir. Não são estes últimos os doentes que necessitam de médico? Por que Deus, que não quer a morte do pecador, o privaria do socorro que o pode arrancar ao lameiro? Os bons Espíritos lhe vêm em auxílio e seus conselhos, dados diretamente, são de natureza a impressioná-lo de um modo mais vivo do que se os recebesse indiretamente. Deus, em sua bondade, para lhe poupar o trabalho de ir buscá-la longe, nas mãos lhe coloca a luz. Não será ele bem mais culpado, se não a quiser ver? Poderá desculpar-se com a sua ignorância, quando ele mesmo haja escrito com as suas mãos, visto com os seus próprios olhos, ouvido com seus próprios ouvidos, e pronunciado com a própria boca a sua condenação? Se não aproveitar, será então punido pela perda ou pela perversão da faculdade que lhe fora outorgada e da qual, nesse caso, se aproveitam os maus Espíritos para o obsidiarem e enganarem, sem prejuízo das aflições reais com que Deus castiga os servidores indignos e os corações que o orgulho e o egoísmo endureceram.

A mediunidade não implica necessariamente relações habituais com os Espíritos Superiores. É apenas uma aptidão para servir de instrumento mais ou menos dúctil aos Espíritos, em geral.

Segundo Emmanuel, a mediunidade é aquela luz que seria derramada sobre toda a carne e prometida pelo Divino Mestre aos tempos do Consolador, em curso atualmente na Terra. Sendo Luz que brilha na carne, a mediunidade é atributo do Espírito, patrimônio da alma imortal, elemento renovador da posição moral da criatura terrena, enriquecendo todos os seus valores no capítulo da virtude e da inteligência, sempre que se encontre ligada aos princípios cristãos na sua trajetória pela face do mundo.

"Mediunidade é talento do céu, para o serviço de renovação do mundo. Lâmpada que nos cabe acender, aproveitando o óleo da humildade, é indispensável nutrir com ela a sublime luz do amor, a irradiar-se em caridade e compreensão para todos os que nos cercam. Emmanuel"

Por outro lado, todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns. Todavia, usualmente, assim se qualificam aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então depende de uma organização mais ou menos sensitiva.

O médium, assim, é o ser, o indivíduo que serve de traço de união aos Espíritos, para que estes possam comunicar-se facilmente com os homens: Espíritos encarnados. Por conseguinte, sem médium, não há comunicações tangíveis, mentais, escritas, físicas, de qualquer natureza que seja.

Nota-se, entretanto, que o bom médium, pois, não é aquele que se comunica facilmente, mas aquele que é simpático aos bons Espíritos e somente deles tem assistência. Unicamente neste sentido é que a excelência das qualidades morais se torna onipotente sobre a mediunidade.

A missão mediúnica, se tem seus percalços e suas lutas dolorosas, é uma das mais belas oportunidades de progresso e de redenção concedidas por Deus aos seus filhos misérrimos.

Assim é que os grandes Instrutores da Espiritualidade utilizam-se dos médiuns para a transmissão de mensagens edificantes, enriquecendo o Mundo com novas revelações, conselhos e exortações que favorecem a definitiva integração a programas emancipadores. Tudo isso pode o mediunismo conseguir se o pensamento do Nosso Senhor, repleto de fraternidade e sabedoria, for a bússola de todas as realizações.

Parte retirada do ESDE - Tomo 1 Modulo V - Comunicabilidade dos espíritos